A “Mensagem sobre Angola” em solidariedade a luta de libertação do povo angolano foi transmitida por Carlos Marighella em agosto de 1967 através da Rádio Havana. Marighella chefiou a delegação brasileira na 1ª Conferência da OLAS e permaneceu em Cuba entre em julho e setembro de 1967, onde já se encontravam alguns militantes da chamada “Ala Marighella” do PCB, que depois viria a se transformar no Agrupamento Comunista de São Paulo e posteriormente na ALN. A “Mensagem sobre Angola” foi recuperada para o livro Pensamento Marighella – Volume I a partir dos áudios originais e das publicações “Mensagens de Cuba” (1967) e “Carlos Marighella – Textos” (1971).
Angola é um país cuja área equivale a um pouco menos da área do Estado do Amazonas. Tem uma população de 5 milhões de habitantes.
O regime salazarista de Portugal explora e submete pela violência o povo angolano, que luta para libertar-se do jugo colonial português, o mesmo que nos oprimiu no passado e contra o qual também lutamos, rechaçando o seu domínio.
O povo angolano combate de armas na mão a opressão do colonialismo lusitano. Quem dirige esta luta é o Movimento Popular de Libertação de Angola, que opera em três frentes guerrilheiras, ou seja, Cabinda, Norte e Leste. Portugal mantém em Angola metade de todos os efetivos portugueses empenhados em subjugar as colônias lusitanas na África.
Um dos mais graves crimes cometidos pelo governo brasileiro, chefiado pelo gorila Costa e Silva, é o apoio a Portugal e a seu regime colonialista. Magalhães Pinto, o chanceler da ditadura militar brasileira, por mais que tente camuflar a política externa que executa, não pode ocultar que defende na ONU a posição colonialista do regime de Salazar. E que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil não passa de uma agência ou seção do Departamento de Estado Norte-Americano, fenômeno que, aliás, se repete com os demais Ministérios e com o governo federal em seu conjunto. Magalhães Pinto é a voz do dono, ou seja, a voz de Lyndon Johnson.
Os Estados Unidos ajudam Portugal a reprimir o movimento guerrilheiro do povo angolano. Parte da ajuda dos Estados Unidos é feita através do Brasil, já que o nosso país, infelizmente, é um centro de operações do imperialismo norte-americano.
O Brasil não é somente um intermediário dos Estados Unidos, numa empreitada sinistra a que se juntam a Inglaterra, a Alemanha Ocidental e Israel, como fornecedores de toda classe de equipamentos bélicos para o esmagamento das guerrilhas de Angola. O governo brasileiro, ademais desse papel vergonhoso de intermediário, está prestando ajuda militar e financeira a Portugal com o fim de sufocar o movimento guerrilheiro angolano. As missões navais que o Brasil costuma mandar a Angola fazem parte do plano dos gorilas brasileiros de intensificar o intercâmbio de experiências e ensinamentos militares e reforçar a repressão ao movimento de libertação de Angola.
Não foi por acaso que a ditadura instaurada no Brasil em 1964 perseguiu violentamente os estudantes angolanos com bolsa de estudos na Guanabara, prendeu-os, espancou-os, torturou-os no Cenimar (polícia política da marinha de guerra brasileira), em presença dos agentes da PIDE (polícia política portuguesa), chamada às pressas para ajudar seus colegas gorilas brasileiros. O caso do estudante angolano José Lima de Azevedo é por demais conhecido, para que seja negada a evidência. Para sermos mais claros, trata-se do caso do chamado grupo angolano, quando José Lima e outros seus companheiros foram selvagemente seviciados no Cenimar e no Dops por esbirros como Alex, Solimar e outros.
A luta do povo angolano pela sua libertação nos chama a um pronunciamento e ao trabalho revolucionário de solidariedade. É preciso denunciar o papel repugnante do governo gorila brasileiro ajudando Portugal a massacrar os angolanos. Mas ao mesmo tempo cumpre organizar a luta para mobilizar a opinião pública brasileira em favor da libertação de Angola e em favor da liberdade dos presos políticos, como o caso do líder angolano Reverendo Mário Pinto de Andrade, que se encontra preso na Casa de Reclusão há seis longos anos.