Chacina de Quintino: 50 anos do massacre contra a VAR-Palmares

Em 29 de março de 1972, após um cerco montado pela ditadura militar fascista ao aparelho da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-P) localizado no bairro de Quintino, na zona norte do Rio de Janeiro, a repressão assassinou os/as revolucionários/as Antônio Marcos de Oliveira, Lígia Maria Nóbrega e Maria Regina de Figueiredo.

A ação coordenada pelo DOI-CODI, tinha como alvo principal o comandante da organização, James Allen da Luz, que conseguiu escapar ao massacre pulando o muro dos fundos. A casa nº 72, localizada em uma vila da Avenida Suburbana, onde se reunia o núcleo da VAR-P, foi invadida à noite por agentes da repressão que haviam passado o dia em um terreno próximo aguardando o momento para assassinar os militantes da organização. Após a chacina, a ditadura criou uma falsa versão de que os agentes foram recebidos à tiros pelos guerrilheiros.

Lígia Maria, pedagoga e companheira de James Allen, estava grávida de dois meses. Allen, que havia comandado diversas ações guerrilheiras da VAR-P, foi também o responsável pela ação que desviou para Havana, em janeiro 1970, o avião comercial da Cruzeiro do Sul. Em fevereiro de 1972, um comando conjunto da VAR-Palmares, ALN e do PCBR, justiçou o marinheiro inglês David Cuthberg, que integrava uma força-tarefa da Marinha Britânica, sendo Lígia reconhecida nessa ação enquanto espalhava panfletos contra o “imperialismo inglês” e em solidariedade ao IRA (Exército Republicano Irlandês), o que facilitou a ação repressiva. A Chacina de Quintino seria um golpe fatal da repressão contra a VAR-Palmares, que já vinha sofrendo diversas quedas.

A VAR-Palmares havia nascido em reuniões realizadas nos meses de junho e julho de 1969, no litoral paulista, entre as direções da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e o que naquele momento se chamava “O pontinho” (abreviatura de Organização), que se formou após as quedas no Comando de Libertação Nacional (COLINA), que por sua vez, era proveniente de um racha da ORM-POLOP e dissidências do PCB e AP, em fins de 1967, principalmente nos estados de Minas Gerais, Guanabara e Paraná.

Em junho de 1969, a VAR-P realizaria o roubo do cofre do corrupto ex-governador de São Paulo, Ademar de Barros, na expropriação que ficaria conhecida como “a grande ação”, quando um destacamento da organização invadiu a casa da família de uma amante do político do “rouba, mas faz” em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, e conseguiu levar quase 2,6 milhões de dólares.

O famoso Congresso da VAR-Palmares, realizado em Teresópolis (RJ), em agosto de 1969, durou inacreditáveis 44 dias se estendendo até setembro e entre os poucos mais de 30 delegados, além do capitão Carlos Lamarca, marcaria presença, também, uma jovem guerrilheira vinda do COLINA que usava o codinome Luiza, e que décadas mais tarde se tornaria presidente do Brasil, Dilma Rousseff. Em meio à crise política do regime, quando a Junta Militar provisória assumiu no lugar do general Costa e Silva, ainda durante o Congresso, um comando da ALN e MR-8, realizaria a captura o embaixador norte-americano, Charles Burke Elbrick, em 4 de setembro de 1969, o que deixou a Guanabara completamente sitiada.

Apesar da concordância em temas fundamentais, como o caráter socialista da Revolução Brasileira e a luta armada como caminho fundamental, os grupos se dividiram entre as “Teses sobre a Tática” e as “Teses de Jamil” da VPR, além de debates sobre o caráter político-militar da organização, se produzindo o chamado “Racha dos Sete”, que dará origem ao processo de reorganização da VPR, liderado por Lamarca. Com a VAR-Palmares, posteriormente se dividindo novamente com a Dissidência da VAR-Palmares (DVP), mas prosseguindo na luta armada até ser finalmente dizimada pela repressão em 1974.

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