Documento de fundação da Frente Popular para a Libertação da Palestina

11 de dezembro de 1967

Povo da nação árabe. Povo da Palestina…

Há cinquenta anos, as massas do nosso povo enfrentaram uma série contínua de ataques por parte do sionismo e do colonialismo contra esta nação e o nosso direito à liberdade e à vida. Cinquenta anos depois, as forças mundiais do sionismo e do imperialismo continuam tramando conspirações, ataques e guerras para estabelecer seu plano de entidade: o Estado de Israel. A cada dia deste período histórico, as massas populares lutam contra cada um desses planos. Ao longo dos anos da existência do nosso povo, vimos a continuação dessa luta por meio de levantes e revoltas, culminando no período recente com o trabalho de comando praticado pelas vanguardas do povo no terreno e outros métodos sérios de ação política, com total rejeição da submissão, da rendição e da colaboração. Esse avanço também representa a determinação das massas palestinas em tomar a iniciativa de pavimentar o caminho para a plena emancipação, que é simultaneamente, responsabilidade de todas as massas árabes.

Nosso povo em luta…

A derrota militar sofrida pelos exércitos árabes marcou o início de uma nova fase de trabalho em que as massas revolucionárias devem assumir o papel de liderança responsável para enfrentar as forças militares do imperialismo e do sionismo, que a história demonstrou ser a arma mais eficaz para esmagar todas as formas de agressão colonial, dando a iniciativa às massas populares para moldar o futuro de acordo com sua vontade e interesses. A única arma que resta às massas para reverter a história e avançar é realmente derrotar os inimigos e seus aliados a longo prazo usando a violência revolucionária para enfrentar a violência da reação sionista. Não há outra opção para as massas da nação árabe: elas enfrentam um inimigo brutal que exige sua rendição incondicional. As esperanças e expectativas das massas árabes atingiram um nível qualitativamente novo desde antes de 5 de junho[1]; elas estão cientes da natureza dessa fase e de que as condições objetivas amadureceram a ponto de nos permitir levantar a consigna da luta armada popular e colocá-la em prática até a vitória em uma batalha longa e prolongada, uma vitória que deve ser alcançada pela disposição e aspirações das massas.

As massas do nosso povo hoje vivem pela primeira vez desde a Nakba de 1948 em um território palestino completamente ocupado, enfrentando um inimigo voraz frente a frente, e agora devemos assumir esse desafio até o fim ou aceitar a rendição às ambições do inimigo, a humilhação diária do nosso povo e as heranças dissipadas de nossas vidas. O deslocamento e a dispersão dos últimos 20 anos criaram uma situação em que devemos enfrentar os invasores sionistas; o destino do nosso povo, nossa causa e de todos os seres humanos na Palestina depende da nossa determinação nacional de lutar contra os invasores para preservar nossa dignidade, nossas terras e nossos direitos.

Povo palestino expulso e exilado nos campos de refugiados… Camponeses da nossa terra enfurecida… Oh pobres, firmes em nossas cidades e aldeias, nos campos da miséria…

Através da sua coragem e resistência no enfrentamento com o inimigo, uma consigna é primordial e repetida diariamente: a resistência armada, e não há vida para nós em nossa terra ocupada senão a vida da luta armada popular a serviço dos nossos objetivos como batalha diária. A resistência armada é o único método eficaz que as massas populares devem usar para enfrentar o inimigo sionista e todos os seus interesses e presença, sendo as massas a autoridade, o guia e a direção da resistência que alcançará a vitória final. É necessário recrutar nas massas populares e mobilizá-las como participantes e lideranças ativas, algo que só pode ser alcançado por meio de uma organização programática que proponha a luta armada das forças populares, criando uma maior consciência de todas as dimensões da batalha e suas etapas, com o recrutamento contínuo de combatentes para a organização armada, construindo uma liderança revolucionária capacitada para resistir e continuar apesar de todas as dificuldades e obstáculos.

Portanto, a fim de unir as forças e energias das massas palestinas na terra ocupada, realizamos um encontro abrangente entre as seguintes organizações palestinas: Os Heróis do Retorno, os esquadrões da Frente de Libertação da Palestina (Organização do Mártir Abdul Latif Shrour, Organização do Mártir Qassam e Organização do Mártir Abdul-Qader Al-Husseini), a Frente Nacional de Libertação da Palestina (Organização da Juventude pela Vingança) e outros grupos palestinos em nossa pátria. Essas organizações concordaram em se unir sob a bandeira da Frente Popular para a Libertação da Palestina, alcançando uma unidade promissora entre nossas forças, compreendendo que a natureza e as dimensões da batalha e as forças hostis nos exigem agrupar todos os esforços nas fileiras revolucionárias para nossa longa e amarga luta contra nossos inimigos.

A Frente Popular para a Libertação da Palestina, fundada e liderada por um núcleo de revolucionários, está também aberta a todas as forças e grupos palestinos, a fim de reunir uma ampla frente revolucionária para alcançar uma unidade nacional estabelecida entre todas as facções comprometidas com a luta armada. A unidade de todos os combatentes pela liberdade é uma exigência real para nosso povo, pois a batalha é longa e cruel, e a divisão é intolerável nas fileiras do movimento nacional, por isso a Frente Popular está profundamente dedicada a essa exigência, pois foi formada nessa base. Hoje, nossas massas marcham pelo caminho da luta armada. Acreditamos na liderança das massas na luta armada, carregando sua bandeira como a única garantia da firmeza dessa luta e sua intensificação até o nível da revolução palestina, com todas as suas dimensões e conteúdo.

Nosso povo combatente…

A única linguagem que o inimigo entende é a da violência revolucionária. A luta armada é o principal componente do prolongado conflito que estamos travando contra a ocupação e as tentativas de acabar nossa luta através das políticas de assentamento, que começaram novamente em algumas áreas da pátria árabe e impõem uma ocupação totalmente inaceitável em algumas partes da nossa terra. Lutamos contra o inimigo em todas as terras por onde marcham os pés de seus soldados. Este é nosso plano histórico, até que cheguemos à etapa em que abriremos uma frente mais ampla contra o inimigo e transformaremos nossa terra em um inferno ardente para os invasores. O fogo cruzado da luta armada não conhece limites, e a resistência armada não deve se limitar aos militantes, mas deve abranger todas as partes e setores da resistência palestina contra o inimigo em todos os níveis, enfrentando o inimigo militarmente, mas também boicotando totalmente todas as instituições econômicas, civis e políticas do inimigo e recusando todos os vínculos com ele. A consigna de nossas massas deve ser a resistência até a vitória, enraizada no coração com os pés firmes no chão em um profundo compromisso com nossa terra. Hoje, a Frente Popular convoca nossas massas sob este chamado. Este é o clamor. Devemos repeti-lo a cada dia, com cada bala, com a queda de cada mártir: a terra da Palestina pertence hoje a todas as massas. Cada área de nossa terra pertence a nossas massas que a defenderam contra a presença do usurpador, cada pedaço de terra, cada rocha e pedra, nossas massas não abandonarão nem uma polegada delas porque pertencem às legiões dos pobres, famintos e deslocados. Para libertar esta terra, e por nosso firme povo, nossos combatentes caem hoje com a cabeça erguida. As massas – filhas do nosso heroico povo – são o fôlego vital dos combatentes, e a participação das massas na batalha garante a vitória a longo prazo. O apoio popular aos militantes em todos os níveis e em todas as terras constitui a base de uma luta e constância genuínas, firmes e crescentes até que esmaguemos o inimigo.

Nesta guerra por nossa terra ocupada, o destino dos colaboracionistas e traidores do povo será o destino do inimigo ocupante, serão esmagados por completo. A Frente Popular para a Libertação da Palestina está determinada a rejeitar a demora e a vacilação na luta em nossa terra ocupada e declara sua determinada rejeição à humilhação dos assentamentos. Nos apresentamos hoje diante de nossas massas, nosso povo, prometendo fornecer-lhes a verdade, a verdade em todos os aspectos, em relação às nossas lutas, conquistas e aos obstáculos que nossa ação armada enfrenta. A verdade deve pertencer às massas porque não há outra força mais comprometida com seus próprios interesses. As massas devem estar plenamente cientes das conquistas e problemas da luta armada, sem exageros ou alardes, porque são as depositárias dos objetivos desta luta e suas aspirações, que entregarão a esta luta todas as suas forças, até mesmo seu sangue. Os membros ativos, os combatentes na terra palestina hoje seguem um novo caminho de ação política e tratam as massas com total franqueza e sinceridade.

Povo da nação árabe…

Esta batalha é longa e árdua, e a resistência armada é hoje a vanguarda da luta ao longo da firme frente da nação árabe. Todos os árabes exigem hoje que seja prestado pleno apoio à marcha das forças armadas em todos os níveis. As massas combatentes palestinas na terra ocupada são as protagonistas da marcha revolucionária árabe contra o imperialismo e suas forças intermediárias. Em nossa resposta à aliança sionista e ao colonialismo, devemos estabelecer uma ligação orgânica entre a luta do povo palestino e a luta das massas do povo árabe, que enfrentam os mesmos riscos e conspirações, assim a ação da luta armada palestina determina a posição dos árabes que estão ao lado da luta, em oposição àqueles que a rejeitam. A luta do povo palestino está vinculada à luta das forças da revolução e do progresso mundial, o formato da coalizão que enfrentamos requer uma aliança de lideranças correspondente, que inclua todas as forças anti-imperialistas em cada parte do mundo.

Nossas massas que lutam em todas as partes na terra palestina… Companheiros trabalhadores e camponeses… Oh, pobres e refugiados… Companheiros estudantes… Funcionários e comerciantes…

Este é o início de um movimento popular que levanta as bandeiras do sacrifício, da firmeza e do desafio. Estamos sobre a terra e prometemos que a luta armada não é um sonho colorido, mas um combate sob a liderança e mobilização política das massas para defender os indefesos contra as represálias e a perseguição. Hoje marchamos a cada passo da luta, preparando-nos para travar uma batalha longa, dura e amarga, graças a vossa liderança e compromisso como verdadeiros defensores da causa. Essa batalha não é fácil e nem rápida, mas é a batalha do nosso destino, e sua presença requer nosso profundo comprometimento, capacidade de continuar e constância.

Gloria à perseverança de nossa nação árabe.

Glória à luta de nosso povo.

Vida longa à unidade de nossos combatentes na terra palestina.

Tenham a certeza de que venceremos.


[1] Entre 5 e 10 de junho de 1967 ocorreu a Guerra dos Seis Dias, iniciada por Israel contra a coalizão árabe formada pela República Árabe Unida (hoje Egito e Síria), Jordânia e Iraque.

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