Você poderia nos contar algo sobre sua história pessoal? Como você chegou à filosofia marxista?
Em 1948, quando eu tinha 30 anos, me tornei professor de filosofia e me filiei ao PCF [Partido Comunista Francês]. A filosofia era um interesse, eu buscava fazer dela minha profissão. A política era uma paixão, eu almejava ser um militante comunista.
Meu interesse pela filosofia foi motivado pelo materialismo e sua função crítica: o conhecimento científico, contra todas as mistificações do “conhecimento” ideológico. Contra o mero denuncismo moral de mitos e mentiras, por suas críticas racionais e rigorosas. Minha paixão pela política foi inspirada pelo instinto revolucionário, inteligência, coragem e heroísmo da classe operária em sua luta pelo socialismo. A guerra e os longos anos em cativeiro me propiciaram um vívido contato com operários e camponeses e fui apresentado aos militantes comunistas.
Foi a política que decidiu tudo. Não a política em geral, mas a política marxista-leninista.
Primeiro foi necessário encontrá-la e compreendê-la. Isso é sempre muito difícil para um intelectual. E foi especialmente difícil nos anos 50 e 60, pelas razões que todos conhecem as consequências do “culto”, o XX Congresso, depois a crise do Movimento Comunista Internacional. Sobretudo não foi fácil resistir à pressão ideológica “humanista” contemporânea e a outros ataques da ideologia burguesa ao marxismo.
Tendo compreendido melhor a política marxista-leninista comecei a me apaixonar também pela filosofia, já que pude, finalmente, compreender a grande tese de Marx, Lênin e Gramsci: a filosofia é o fundamento da política.
Tudo o que escrevi, primeiro sozinho, depois em colaboração com camaradas e amigos mais jovens, gira, apesar do caráter “abstrato” de nossos ensaios, em torno dessas questões bastante concretas.
Você poderia ser mais preciso sobre por que é tão difícil, em geral, ser um comunista na filosofia?
Ser comunista em filosofia é ser partidário e artesão da filosofia marxista: o materialismo dialético.
Não é fácil ser um filósofo marxista-leninista. Como todo “intelectual”, o professor de filosofia é um pequeno burguês. Quando ele abre a boca, sua ideologia pequeno-burguesa fala: seus truques e espertezas são infinitos.
Você sabe o que disse Lênin dos intelectuais? Alguns podem ser individualmente (politicamente) revolucionários declarados e corajosos, mas em seu conjunto permanecem sendo pequeno-burgueses “incorrigíveis” na ideologia. Lênin, que admirava o talento de Gorki, o considerava, não obstante, um revolucionário pequeno-burguês. Para chegar a ser “ideólogos da classe operária” (Lênin), “intelectuais orgânicos” do proletariado (Gramsci), é necessário que os intelectuais realizem uma revolução radical nas suas ideias: reeducação longa, dolorosa e difícil. Uma interminável luta exterior e interior.
Os proletários têm um instinto de classe que os ajuda a passar para “posições de classe” proletárias. Os intelectuais, pelo contrário, têm um instinto de classe pequeno-burguês que resiste fortemente a essa transformação.
A posição de classe proletária é algo mais que o simples “instinto de classe” proletário. É a consciência e a prática de acordo com a realidade objetiva da luta de classe proletária. O instinto de classe é subjetivo e espontâneo. A posição de classe é objetiva e racional. Para adotar posições de classe proletárias basta educar o instinto de classe dos proletários; pelo contrário, o instinto de classe dos pequeno-burgueses e dos intelectuais deve ser revolucionado. Essa educação e essa revolução são determinadas, em última instância, pela luta de classe proletária conduzida segundo os princípios da teoria marxista-leninista.
O conhecimento desta teoria pode ajudar, como diz o Manifesto, a passar para posições de classe operárias.
A teoria marxista-leninista implica uma ciência (o materialismo histórico) e uma filosofia (o materialismo dialético).
A filosofia marxista é, portanto, uma das armas teóricas indispensáveis para a luta da classe proletária. Os militantes comunistas devem assimilar e aplicar os princípios da teoria: ciência e filosofia. A revolução proletária necessita também de militantes que sejam tanto cientistas (materialistas históricos) quanto filósofos (materialistas dialéticos), para auxiliar na defesa e no desenvolvimento da teoria.
A formação desses filósofos vai de encontro a duas dificuldades.
Primeiro, a dificuldade política. Um filósofo profissional que se junte ao Partido continua sendo um pequeno-burguês. É necessário que revolucione seu pensamento para que ocupe uma posição de classe proletária na filosofia.
Essa dificuldade política é “determinante em última instância”.
A segunda é a dificuldade teórica. Sabemos em que direção e com que princípios trabalhar para definir essa posição de classe na filosofia. Mas é necessário desenvolver a filosofia marxista: é urgente teórica e politicamente. Agora, o trabalho por realizar é enorme e difícil, já que, na teoria marxista, a filosofia está atrasada em relação à ciência da história.
Esta é, atualmente, a dificuldade “dominante”.
Então você distingue uma ciência e uma filosofia dentro da teoria marxista? Você sabe que essa distinção é discutida atualmente?
Eu sei, mas essa “contestação” é uma velha história. Pode-se dizer, de forma extremamente esquemática, que na história do movimento marxista a supressão dessa distinção expressa um desvio direitista ou esquerdista. O desvio direitista suprime a filosofia: não sobra senão a ciência (positivismo). O desvio esquerdista suprime a ciência: não sobra senão a filosofia (subjetivismo). Existem algumas “exceções” (alguns casos inversos), mas elas “confirmam” a regra.
Os grandes dirigentes do movimento operário marxista, desde Marx e Engels até nossos dias, sempre disseram que esses desvios são o efeito da influência e da dominação da ideologia burguesa sobre o marxismo. Eles sempre defenderam essa distinção (ciência-filosofia), não apenas por razões teóricas, mas também por razões políticas vitais. Pense em Lênin, nas suas obras: Materialismo e Empiriocriticismo ou Esquerdismo: doença infantil do comunismo. Suas razões são claramente óbvias.
Como você justifica essa distinção entre ciência e filosofia na teoria marxista?
Responderei a essa pergunta formulando algumas teses provisórias e esquemáticas.
1. A fusão da teoria marxista e do movimento operário é o maior acontecimento de toda a história da luta de classes, ou seja, de praticamente toda a história da humanidade (os primeiros efeitos foram as revoluções socialistas).
2. A teoria marxista (ciência e filosofia) representa uma revolução sem precedentes na história do conhecimento humano.
3. Marx fundou uma nova ciência: a ciência da história. Vou ilustrar isso. As ciências com as quais somos familiares têm seus alicerces em alguns “continentes”. Antes de Marx, dois desses continentes haviam sido abertos ao conhecimento científico: o continente da matemática e o continente da física. O primeiro pelos gregos (Tales), o segundo por Galileu. Marx abriu um terceiro continente ao conhecimento científico: o continente da história.
3. Marx fundou uma ciência nova: a ciência da história. Vou ilustrar isso. As ciências que conhecemos têm seus alicerces em certos grandes “continentes”. Antes de Marx, dois desses continentes haviam sido abertos ao conhecimento científico: o continente da matemática e o continente da física. O primeiro através dos gregos (Tales), e o segundo através de Galileu. Marx abriu ao conhecimento científico um terceiro continente: o continente da história.
4. A abertura desse novo continente provocou uma revolução na filosofia. Essa é uma lei: a filosofia está sempre ligada às ciências.
A filosofia nasceu (com Platão) quando o continente da matemática foi aberto. Ela foi transformada (com Descartes) pela abertura do continente da física. Atualmente é revolucionada com a abertura do continente da história por Marx. Essa revolução se chama materialismo dialético.
As transformações da filosofia são sempre reverberações de grandes descobertas científicas. Portanto, em essência, elas nascem após esses eventos. É por isso que a filosofia ficou para trás da ciência na teoria marxista. Há outras razões que todo o mundo conhece, mas esta é a razão atualmente dominante.
5. Como conjunto, apenas os militantes proletários reconheceram o alcance revolucionário da descoberta científica de Marx. Sua prática política foi transformada por ela.
E temos aqui o maior escândalo teórico da história contemporânea. Na sua maioria, pelo contrário, os intelectuais cuja “profissão” é, não obstante, esta (especialistas em ciências humanas, filósofos) não reconheceram verdadeiramente ou se negaram a reconhecer o grande significado sem precedentes da descoberta científica de Marx, esta que eles condenam, desprezam e distorcem quando discutem a seu respeito.
Salvo poucas exceções, eles ainda estão preocupados com miudezas em economia política, sociologia, etnologia, “antropologia”, “psicologia social”, etc., cem anos depois de O Capital, como os físicos aristotélicos se preocupavam de miudezas na física, cinquenta anos depois de Galileu. Suas “teorias” são anacronismos ideológicos, rejuvenescidos mediante um grande esforço de sutilezas intelectuais e técnicas matemáticas ultramodernas.
Bem, esse escândalo teórico não é absolutamente um escândalo. É um efeito da luta de classe ideológica, já que é a ideologia burguesa, a “cultura” burguesa que se encontra no poder, a que exerce a “hegemonia”. Como conjunto, os intelectuais, incluindo muitos intelectuais comunistas e marxistas, se encontram, salvo exceções, dominados em suas teorias pela ideologia burguesa. Salvo exceções, o mesmo acontece nas “ciências humanas”.
6. A mesma situação escandalosa existe na filosofia. Quem compreendeu a incrível revolução filosófica provocada pelo descobrimento de Marx? Só os militantes e os dirigentes proletários. A maior parte dos filósofos profissionais nem sequer suspeitou. Quando falam de Marx é sempre, salvo exceções raríssimas, para combatê-lo, condená-lo, “digeri-lo”, explorá-lo e revisá-lo.
Aqueles que defenderam a dialética materialista, como Engels e Lênin, são tratados como filosoficamente insignificantes. O verdadeiro escândalo é que certos filósofos marxistas sucumbiram ante a mesma infecção, em nome do “antidogmatismo”. Mas aqui também a razão é a mesma: o efeito da luta de classe ideológica. Pois é a ideologia burguesa, a “cultura” burguesa, que está no poder.
7. Tarefas capitais para o movimento comunista na teoria:
— Reconhecer e conhecer o alcance teórico revolucionário da ciência e da filosofia marxista-leninista;
— Lutar contra a concepção de mundo burguesa e pequeno-burguesa que ameaçam sempre a teoria marxista e a infiltra hoje profundamente. A forma geral dessa concepção de mundo é o economicismo (hoje “tecnocratismo”) e seu “complemento espiritual”: o idealismo moral (hoje “humanismo”). Economicismo e idealismo moral formaram o par fundamental da concepção de mundo burguesa desde as origens da burguesia. A forma filosófica atual dessa concepção de mundo: o neo-positivismo e seu “complemento espiritual”, o subjetivismo fenomenológico-existencialista. A variante peculiar das “ciências humanas”: a ideologia chamada “estruturalista”;
— Conquistar para a ciência a maioria das ciências humanas e, sobretudo, as ciências sociais, que, com exceções, têm ocupado como impostoras o continente da história, do qual Marx nos deu as chaves;
— Desenvolver a nova ciência e filosofia com todo rigor e ousadia necessários, vinculando ambas aos requisitos e inventos da prática da luta de classe revolucionária.
Na teoria, a ligação decisiva na atualidade: a filosofia marxista-leninista.
Você disse duas coisas que aparentemente contraditórias ou diferentes: primeiro, a filosofia é fundamentalmente política; segundo, a filosofia está ligada às ciências. Como você explica essa dupla relação?
Aqui também terei de responder por meio de teses provisórias e esquemáticas.
1. As posições de classe em confronto na luta de classes são representadas no domínio das ideologias práticas (ideologias religiosas, éticas, legais, políticas, estéticas) por concepções de mundo de tendências antagônicas: idealistas (burguesas) e materialistas (proletárias). Todos desenvolvem espontaneamente uma concepção de mundo.
2. As concepções de mundo são representadas no domínio da teoria (ciências e as ideologias “teóricas” nas quais se banham as ciências e os cientistas) pela filosofia. A filosofia representa a luta de classes na teoria. É por isso que a filosofia é uma luta (Kampf, como disse Kant) e fundamentalmente uma luta política: uma luta de classes. Ninguém é um filósofo por natureza, mas todos podem ser filósofos.
3. A filosofia existe desde que existe o domínio teórico: desde que existe uma ciência (em sentido estrito). Sem ciência não há filosofia, apenas concepções de mundo. É preciso distinguir o que está em jogo na batalha e o campo da batalha. O que, em última instância, está em jogo na luta filosófica é a luta pela hegemonia entre as duas grandes tendências das concepções de mundo (materialista e idealista). O principal campo de batalha dessa luta é o conhecimento científico: a favor ou contra ele. Deste modo, a batalha filosófica mais importante ocorre na fronteira entre o científico e o ideológico. As filosofias idealistas que exploram as ciências lutam aqui contra as filosofias materialistas que servem às ciências. A luta filosófica é uma esfera da luta de classes entre as concepções de mundo. No passado, o materialismo sempre foi dominado pelo idealismo.
4. A ciência fundada por Marx muda toda a situação no domínio teórico. É uma ciência nova: ciência da história. Portanto, permite, pela primeira vez no mundo, o conhecimento da estrutura das formações sociais e de sua história; permite o conhecimento das concepções de mundo que a filosofia representa na teoria; permite o conhecimento da filosofia. Entrega os meios para transformar as concepções de mundo (a luta de classe revolucionária sob os princípios da teoria marxista). A filosofia foi revolucionada duplamente. O materialismo mecanicista “idealista historicamente” se torna o materialismo dialético. A relação de forças se inverte: agora o materialismo pode dominar o idealismo na filosofia e, se as condições políticas estiverem dadas, conduzir a luta de classes pela hegemonia entre as concepções de mundo.
A filosofia marxista-leninista, ou o materialismo dialético, representa a luta de classe proletária na teoria. Na união da teoria marxista e do movimento operário (realidade última da união da teoria e da prática) a filosofia é interrompida, como disse Marx, para “interpretar o mundo”. Torna-se uma arma para sua “transformação”: a revolução.
São por todas essas razões que levaram você a dizer que é essencial ler O Capital hoje em dia?
Sim. É essencial ler e estudar O Capital:
— Para verdadeiramente compreender em toda sua envergadura e em todas suas consequências científicas e filosóficas o que compreenderam na prática, há muito, os militantes proletários: o caráter revolucionário da teoria marxista.
— Para defender essa teoria contra todas as interpretações, quer dizer, revisões burguesas ou pequeno-burguesas que hoje a ameaçam profundamente: em primeiro lugar o par economicismo/humanismo.
— Para desenvolver a teoria marxista e prover os conceitos científicos indispensáveis à análise da luta de classes contemporânea, em nossos países e mundo afora.
3. Para desenvolver a teoria marxista e produzir os conceitos científicos indispensáveis para a análise da luta de classes de hoje, em nossos países e fora deles.
É essencial ler e estudar O Capital. Devo acrescentar que é necessário e essencial ler e estudar Lênin e todos os grandes textos, novos ou antigos, aos quais se devem a experiência da luta de classe do movimento operário internacional. É essencial estudar os textos práticos do movimento operário revolucionário em sua realidade, seus problemas e contradições: sua história passada e, acima de tudo, sua história presente.
Atualmente, existem grandes recursos em nossos países para a luta de classe revolucionária. Mas eles devem ser buscados em suas fontes: nas massas oprimidas. Eles não serão “descobertos” sem um vínculo direto com as massas e sem as armas da teoria marxista-leninista. As noções ideológicas burguesas de “sociedade industrial”, “neocapitalismo”, “nova classe operária”, “sociedade de consumo”, “alienação” e tutti quanti são anticientíficas e antimarxistas: confeccionadas para combater aos revolucionários.
Uma última observação, a mais importante de todas.
Para compreender realmente o que se “lê” e estuda nessas obras teóricas, políticas e históricas deve-se vivenciar diretamente as duas realidades que de fato as determinam: a realidade da prática teórica (ciência, filosofia) em sua vida concreta e, também nesta, a realidade da prática da luta de classe revolucionária, em contato estreito com as massas. Pois é a teoria que nos permite compreender as leis da história: não são os intelectuais ou os teóricos, mas as massas que fazem a história. É essencial aprender com a teoria, mas ao mesmo tempo é crucial aprender com as massas.
Você atribui uma grande importância ao rigor, inclusive ao rigor no vocabulário. O que isso significa?
Uma simples expressão pode resumir a função maior da prática filosófica: “traçar uma linha de demarcação” entre as ideias verdadeiras e as ideias falsas, como disse Lênin. A mesma expressão resume uma das operações essenciais da direção da prática da luta de classes: “traçar uma linha de demarcação” entre as classes antagônicas, entre nossos amigos de classe e nossos inimigos.
É a mesma expressão. A linha de demarcação teórica entre as ideias verdadeiras e as falsas. A linha de demarcação política entre o povo (o proletariado e seus aliados) e os inimigos do povo.
A filosofia representa a luta de classes na teoria. Em contrapartida, ela ajuda o povo a distinguir na teoria e em todas as outras ideias (políticas, éticas, estéticas, etc.) quais ideias são corretas e quais são erradas. A princípio, as ideias verdadeiras sempre servem ao povo; as ideias falsas sempre servem aos inimigos do povo.
Por que a filosofia batalha pelas palavras? As realidades da luta de classes são “representadas” pelas “ideias”, que são, por sua vez, “representadas” por palavras. Na argumentação científica e filosófica, as palavras (conceitos, categorias) são “instrumentos” do conhecimento. Mas na luta política, ideológica e filosófica, as palavras são também armas: explosivos, calmantes ou venenos. Toda a luta de classes pode, às vezes, resumir-se na luta por uma palavra, contra outra palavra. Certas palavras lutam entre si como inimigas. Outras dão lugar a equívocos, a uma batalha decisiva, porém não resolvida.
Por exemplo, a luta comunista é pela supressão das classes e por uma sociedade comunista, onde, um dia, todos os homens serão livres e irmãos. Entretanto, toda a tradição marxista clássica se recusou a considerar o marxismo como um humanismo. Por quê? Pela palavra humanismo ser, na prática (isso é, com base nos fatos), explorada por uma ideologia que a usa para combater, ou seja, para obliterar aquela outra expressão verdadeira, vital ao proletariado: a luta de classes.
Outro exemplo, os revolucionários sabem que, em último instância, tudo dependerá, não das técnicas, armas, etc., mas dos militantes, com sua consciência de classe, sua abnegação e sua coragem. Contudo, toda a tradição marxista se nega a dizer que é o “homem que faz a história”. Por quê? Por esta expressão ser na prática (com base nos fatos) explorada pela ideologia burguesa, que a utiliza para combater, ou seja, para extinguir outra ideia verdadeira, vital ao proletariado: que são as massas que fazem a história.
Ao mesmo tempo, a filosofia – mesmo nos longos trabalhos onde ela se mostra abstrata e difícil – batalha pelas palavras: contra as palavras mentirosas, contra as palavras ambíguas, a favor das palavras corretas. Ela luta pelas “marcas de opinião”.
Lênin disse: “É preciso ser míope para considerar como inoportunas ou supérfluas as discussões de fração e a delimitação rigorosa de matizes. Da consolidação de tal ou qual ‘matiz’ pode depender o futuro da social-democracia russa por longos anos, muitos longos anos” (em “O que fazer? – Questões candentes de nosso movimento”).
Esse combate filosófico entre palavras é uma parte da luta política. A filosofia marxista-leninista não pode realizar sua obra teórica abstrata, rigorosa e sistemática senão na condição de lutar também por expressões muito “eruditas” (conceito, teoria, dialética, alienação, etc.) e por palavras muito simples (homem, massas, povo, luta de classes).
Como você trabalha?
Trabalho com três ou quatro camaradas e amigos, professores de filosofia. Atualmente, sobretudo com Balibar, Badiou, Macherey. As ideias que acabo de expor são resultado de nosso trabalho comum.
Tudo o que escrevemos está, evidentemente, marcado por nossa inexperiência e nossas ignorâncias: em nossos trabalhos se encontram, pois, inexatidões e erros. Nossos textos e nossas fórmulas são, portanto, provisórios e destinados a uma retificação. Na filosofia ocorre como na política: sem crítica não há retificação. Pedimos que nos façam críticas marxistas-leninistas. As críticas dos militantes da luta de classe revolucionária são as que mais levamos em conta. Por exemplo, certas críticas que certos militantes nos fizeram durante a sessão do CC [Comitê Central] de Argenteuil nos têm sido de grande ajuda. Outras também. Na filosofia nada se pode fazer fora da posição de classe proletária. Sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário. Mas sem movimento revolucionário não há teoria revolucionária, sobretudo em filosofia. Luta de classes e filosofia marxista-leninista estão unidas como unha e carne.