Poder em qualquer lugar onde haja povo: último discurso de Fred Hampton

Discurso feito por Fred Hampton na Olivet Baptist Church, em Chicago (Illinois), nos primeiros dias de dezembro de 1969, sendo, portanto, seu último discurso público. Traduzido do inglês a partir de uma publicação impressa pela seção do Partido Pantera Negra de Illinois.

Poder em qualquer lugar onde haja povo. Poder em qualquer lugar onde haja povo. Deixem-me dar um exemplo de como ensinar ao povo. Basicamente, os modos pelos quais o povo aprende são a participação e a observação. Vocês sabem que muitos de nós andamos por aí zombando de nós mesmos, acreditando que as massas têm PhD, mas isso não é verdade. E mesmo se tivessem, não faria qualquer diferença. Porque algumas coisas precisam ser aprendidas vendo ou participando. E vocês mesmos sabem, existem pessoas pela sua comunidade que têm todos os tipos de graus de escolaridade e que deveriam estar nesta reunião, mas não estão aqui. Certo? Porque você pode ter tantos graus quanto um termômetro, se não tem nenhuma prática, então não poderá sequer atravessar a rua e mascar chiclete ao mesmo tempo.

Deixe me contar-lhes como Huey P. Newton, o líder e fundador, o homem principal do Partido Pantera Negra, lidou com essa situação.

A comunidade tinha um problema, lá na Califórnia. Havia uma intersecção de quatro vias, muitas pessoas estavam sendo mortas, atropeladas por carros, e então o povo se colocou fazendo suas queixas ao governo. Vocês já passaram por isso. Eu sei que que já passaram. Quando voltaram, os porcos disseram: “Não! Vocês não terão nada”. E eles nem costumam dizer isso que vocês não podem ter algo. Hoje em dia eles são um pouco mais cautelosos. É isso que os graus no termômetro podem te dar. Eles lhe dirão: “Certo, vamos resolver isso. Por que vocês não voltam na próxima reunião e perdem algum tempo?”.

Eles vão te enrolar em digressões fúteis, e você ficará em um ciclo insano, indo e voltando, indo e voltando, indo e voltando, tantas vezes que logo vai enlouquecer. Então eles lhe dirão: “Certo, negros, o que mesmo vocês querem?”. E você se precipitará e dirá: “Bem, tanto tempo se passou que nós não sabemos o que queremos”, e sairá da reunião; e eles dirão: “Bom, vocês negros tiveram sua chance, não tiveram?”.

Deixe me contar o que Huey P. Newton fez.

Huey Newton convocou Bobby Seale, o presidente do Partido Pantera Negra em âmbito nacional. Bobby Seale pegou sua 9mm, uma pistola. Huey Newton pegou sua 12, pegou umas placas de “pare” e um martelo. Foi até a intersecção, deu sua 12 para Bobby, que estava com sua 9mm. Ele disse “Segure esta arma. Se qualquer um mexer com a gente, você estoura seus miolos”. Ele pregou as placas de “pare”. Não houve mais acidentes, não houve mais problema.

Agora, eles tinham uma outra situação. Isso ainda não é o ideal, vejam, porque são apenas duas pessoas lidando com um problema. Huey Newton e Bobby Seale, não importa o quão durões eles fossem, não podem sozinhos lidar com o problema. Mas deixe me explicar a vocês quem são os verdadeiros heróis.

Na vez seguinte, havia uma situação semelhante, em outra intersecção de quatro vias. Huey convocou Bobby, pegou sua 9mm, pegou sua 12 e seu martelo e conseguiu mais placas de “pare”. Colocou as placas, deu a arma para Bobby e disse a Bobby: “Se qualquer um mexer com a gente enquanto estamos colocando essas placas, proteja o povo e estoure seus miolos”. O que o povo fez? Observou novamente. Participou naquilo. Da outra vez, havia outra intersecção de quatro vias. Mais problemas por lá; eles tinham acidentes e mortes. Desta vez, o povo da comunidade pegou suas armas, seus martelos e suas placas de “pare”.

Agora deixe-me mostrar a vocês como fazemos no Partido Pantera Negra daqui. Acabamos de voltar da zona sul. Fomos até lá. Fomos até lá e entramos em uma discussão com os porcos, na verdade os porcos entraram em uma discussão com a gente. Um deles disse: “Certo, presidente Fred, você que supostamente é tão durão, por que não vai em frente e atira em alguns de nossos policiais? Você que está sempre falando em pegar suas armas. Você está com uma, por que não segue em frente e atira em alguns policiais?”.

Eu respondi: “Você acaba de violar uma lei. Na verdade, mesmo que você esteja usando um uniforme, isso não faz qualquer diferença. Porque eu não me importo que você tenha 9 uniformes e 100 distintivos. Quando você pisa fora do campo da legalidade e vai para o campo da ilegalidade, então acho que você deveria ser preso”. E continuei dizendo: “Você fez o que se chama, na lei, de flagrante provocado, você tentou me induzir a fazer algo que é ilegal, você me encorajou, você tentou me incitar a atirar em um porco. E isso não é legal. Você conhece a lei, não?”.

E falei para aquele porco: “Você tem uma arma, porco?”. Continuei: “Você vai ter que colocar suas mãos contra a parede. Nós estamos lhe dando voz de prisão, enquanto cidadãos”. O idiota nem mesmo sabia o que era isso. Eu afirmei: “Agora fique tão calmo o quanto puder e não faça movimentos bruscos, porque não queremos ter que machucar você”.

E falei com ele como sempre falam conosco, disse-lhe: “Bem, estou aqui para lhe proteger. Não se preocupe com nada, estou aqui para lhe ajudar”. Então falei para outro irmão ir chamar os porcos. Você tem que fazer isso após a voz de prisão por cidadão. Ele chamou os porcos. Lá vêm os porcos, com suas carabinas e rifles. Eles vêm falando sobre como irão prender o presidente Fred. E eu disse “Não, seus idiotas. Este é o homem que vocês têm que prender. Foi ele quem infringiu a lei”. E o que eles fizeram? Arregalaram os olhos e não acreditaram. Sabem o que fizeram? Eles ficaram tão irritados, tão nervosos, que me falaram para ir embora.

E o que aconteceu? Todas aquelas pessoas estavam lá na rua 63. O que elas fizeram? Elas estavam lá por perto, rindo e falando comigo enquanto dava voz de prisão ao porco. Elas me viram e me ouviram enquanto eu discutia. Então, na próxima vez em que o porco estiver na rua 63, considerando o que nosso Ministro de Defesa chama de observação e participação, aquele porco poderá ser detido por qualquer um!

Então, o que fizemos? Estávamos lá educando o povo. Como o educamos? Basicamente, da forma pela qual o povo aprende, pela observação e participação. E é isso que estamos tentando fazer. É isso que temos que fazer nesta comunidade. E muitas pessoas não compreendem, mas existem três coisas fundamentais que você precisa fazer sempre para tentar construir uma revolução vitoriosa.

Muitas pessoas entendem a palavra revolução de maneira confusa e pensam que revolução é uma palavra ruim. Revolução não é nada mais do que, por exemplo, ter uma ferida em seu corpo e passar algo para curar a infecção. E eu estou dizendo a vocês que vivemos em uma sociedade infectada, agora mesmo. Estou dizendo a vocês que vivemos em uma sociedade doente. E qualquer um que defenda se integrar à esta sociedade doente antes dela ser desinfetada é uma pessoa que está cometendo um crime contra o povo.

Se você passa por uma sala de hospital e vê uma placa que diz “contaminado” e tenta levar as pessoas para aquela sala, então estas pessoas são bem burras, vocês me entendem; porque, se não fossem, lhe diriam que você é um líder injusto e desonesto que não pensa nos interesses de seus seguidores. E o que estamos dizendo é simplesmente que temos que fazer com que os líderes sejam responsáveis pelo que fazem. Eles andam por aí falando que fulano é um “Pai Tomás”, então abriremos um centro de cultura para ensiná-lo o que é negritude. E estes negros acham que estão mais conscientes do que você e eu, e Malcolm e Martin Luther King, e todo mundo junto. Com certeza. Eles são os mais conscientes, são os que inaugurarão o centro. Irão lhe dizer de onde da África vieram os nossos, lugares cujos nomes vocês não conseguem nem pronunciar. É isso. Eles lhe falarão sobre Shaka, o líder dos bantus que combatem pela liberdade, e sobre Jomo Kenyatta. Esses aproveitadores vão desandar a falar sobre tudo isso para vocês. Eles sabem disso tudo. Mas a questão é que fazem isso porque é lucrativo e benéfico para eles.

Vejam, as pessoas se envolvem em muitas coisas porque são lucrativas para elas, e nós temos que torná-las menos lucrativas. Temos que tornar essas coisas menos benéficas. Estou dizendo que qualquer programa que é trazido para nossa comunidade deve ser analisado pelo povo. Deve ser analisado para vermos se atende às necessidades relevantes daquela comunidade. Não precisamos de negros vindo à nossa comunidade trazer suas empresas, abrindo negócios para negros. Existem muitos negros em nossa comunidade que não conseguem nem sequer tirar migalhas dos negócios que eles abrem.

Temos que encarar alguns fatos. Que as massas são pobres, que as massas pertencem ao que se chamam de classes inferiores; e, quando eu falo das massas, estou falando das massas brancas, estou falando das massas negras e marrons, e das amarelas também. Temos que encarar o fato de que algumas pessoas dizem que se combate melhor o fogo com o próprio fogo, mas nós dizemos que se combate melhor o fogo com água. Dizemos que não se combate racismo com racismo. Combatemos o racismo com solidariedade. Dizemos que não se combate o capitalismo com nenhum capitalismo negro; o capitalismo se combate com o socialismo.

Não vamos lutar contra os porcos reacionários que vêm e vão pelas ruas sendo nós mesmos reacionários; vamos nos dedicar e organizar o poder político revolucionário e ensinar a nós mesmos as necessidades específicas de resistência à estrutura de poder, nos armar e combater os reacionários com a revolução proletária internacional. É assim que tem que ser. O povo tem que ter o poder: ele pertence ao povo.

Temos que entender com bastante clareza que existe em nossa comunidade um homem chamado capitalista. Algumas vezes ele é negro e algumas vezes é branco. Mas este homem tem que ser expulso de nossa comunidade, porque qualquer um deles que vem para a comunidade lucrar sobre o povo, explorando-o, pode ser definido como capitalista. E não nos importamos quantos programas eles tenham, ou quão longa a sua dashiki seja. Porque o poder político não nasce das mangas de um dashiki; o poder político nasce do cano de uma arma. Ele nasce do cano de uma arma!

Muitos de nós que andamos por aí falando de política nem sequer sabemos o que é política. Você já puxou algo que viu e levou o mais longe possível, tanto que essa coisa quase se esticou toda e se tornou outra? Se você puxar bastante essa coisa, ela se torna duas? Na verdade, algumas coisas, se você as esticar demais, vão se tornar outras coisas. Você já cozinhou algo tanto tempo que se transformou em outra coisa? Não é verdade?

É sobre isso que estamos falando quando falamos em política.

Que a política não é nada, mas se você a esticar tanto até não poder mais, então sabe o que tem em suas mãos? Tem uma contradição antagônica. E quando você leva essa contradição ao mais alto nível e a tensiona ao máximo possível, tem o que se chama de guerra. A política é guerra sem derramamento de sangue, e a guerra é política com derramamento de sangue. Se você não entende isso, mesmo que seja um democrata, um republicano, um independente ou qualquer coisa que quiser, na verdade, você não é nada.

Não queremos nenhum destes negros, nem qualquer um desses alemães ou quem quer que seja, radicais ou não, ninguém falando: “Sou um candidato independente”. Isso significa que você se vende aos republicanos. Ser “independente” significa que você está disposto a ser aliciado e irá se vender para quem pagar mais. Entendem?

Queremos pessoas que queiram disputar pelo partido do povo, porque o povo irá comandá-lo, quer gostem ou não. O povo provou que pode comandar. O povo fez isso na China, e o fará aqui. Podem chamar isso do que quiserem, podem falar o que quiserem disso. Eles podem chamar de comunismo, e pensar que isso vai assustar alguém, mas não vai assustar ninguém.

Tivemos a mesma coisa acontecendo na rota 37. Eles vieram para a rota 37, onde fica nosso programa de Café da Manhã para Crianças, e começaram a abordar as mulheres que eram um pouco mais velhas, por volta dos 58 anos – sabem, eu digo mais velhas porque eu sou jovem. Eu não tenho mais 20 anos, é verdade. Mas vejam, os porcos as abordam e tentam fazer lavagem cerebral. E vocês não viram nada até verem essas lindas irmãs, com os cabelos começando a ficar grisalhos e sem muitos dentes, mas que estavam destruindo esses policiais! Estavam os estraçalhando! Os porcos chegavam nelas e falavam: “Você gosta de comunismo?”.

Os porcos iam até elas e falavam “Você tem medo do comunismo?”. E as irmãs falavam “Não tenho medo, eu nunca ouvi falar nisso”.

“Você gosta de socialismo?”

“Não tenho medo. Nunca ouvi falar disso.”

Os porcos estavam em choque, porque eles gostavam de ver estas pessoas assustadas com essas palavras.

“Você gosta do capitalismo?”

“Sim, bem, é algo que eu vivo. Eu gosto.”

“Você gosta do programa de café da manhã para as crianças, crioula?”

“Sim, eu gosto.”

E os porcos riem, dizendo: “Bom, o programa café da manhã para crianças é um programa socialista. É um programa comunista”.

E a mulher diz: “Bem, vou lhe falar uma coisa, garoto. Eu conheço você desde que você era da altura do joelho de um gafanhoto, negro. E eu não sei se gosto de comunismo e não sei se gosto de socialismo. Mas sei que o programa de café da manhã para as crianças alimenta meus filhos, negro. E se você puser suas mãos no programa de café da manhã para as crianças, vou sair daqui e chutar sua bunda como um…”

É isso que elas estavam falando. É o que estavam falando e isso é uma coisa linda. E é isso que o programa de café da manhã para as crianças é. Muitas pessoas pensam que é caridade, mas o que ele faz? Leva o povo de um estágio para um outro. Qualquer programa que seja revolucionário é um programa que faz avançar. Revolução é mudança. Queridos, se vocês simplesmente continuarem mudando, antes mesmo que percebam – e, de fato, mesmo sem saber o que é socialismo; você não precisa saber o que isso é –, defenderão, participarão e apoiarão o socialismo.

E muitas pessoas lhes dirão: “Bem, o povo não tem nenhuma teoria, eles precisam de alguma teoria”. Precisam de alguma teoria mesmo se não têm qualquer prática. E o Partido Pantera Negra afirma que se alguém disse esse tipo de coisa, está dizendo para você comprar chocolate e comer a embalagem, jogando o chocolate fora, fazendo com que você andasse para o leste quando você deveria andar para o oeste. É verdade. Se vocês ouvissem aquilo que o porco dizia, vocês estariam lá fora no sol radiante com guarda-chuvas sobre suas cabeças. E quando estivesse chovendo, vocês sairiam de casa e deixariam seus guarda-chuvas lá dentro. É isso mesmo. Vocês têm que juntar as peças. Estou dizendo que é isso que eles querem que vocês façam.

Agora, o que nós fazemos? Dizemos que o programa de café da manhã para as crianças é um programa socialista. Ensina ao povo basicamente isso, pela prática; é assim que nós concebemos, e deixamos as pessoas praticarem esta teoria e investigarem esta teoria. O que é mais importante? Você aprende algo da mesma forma que qualquer um.

Deixe-me tentar esmiuçar para vocês.

Vocês dizem que este irmão aqui vai para a escola por 8 anos para ser um mecânico de automóveis. E aquele professor, que costumava ser um mecânico de automóveis, diz a ele: “Bom, negro, você tem que passar pelo que chamamos de treinamento profissional”. E ele diz: “Maldição, com toda essa teoria que eu tenho, tenho que ir para o treinamento profissional? Para quê?”.

Ele disse: “No treinamento profissional, você trabalha comigo. Estou aqui há vinte anos. Quando comecei a trabalhar, eles nem tinham mecânicos de automóveis. Eu não tenho nenhuma teoria, apenas tenho um monte de prática”.

O que aconteceu? Um carro chegou fazendo muito barulho, um barulho esquisito. Este irmão foi pegar seu livro. Ele está na página 1, longe de chegar na página 200. Eu estou sentado ouvindo o carro. Ele pergunta: “O que você acha que é?”.

Eu digo: “Acho que é o carburador”.

Ele responde: “Não, eu não vejo em nenhum lugar daqui que diga que um carburador faz um barulho como esse”. E completa: “Como você sabe que é o carburador?”.

Eu disse: “Bem, negro, cerca de 20 anos atrás, 19 para ser exato, eu ouvi o mesmo tipo de barulho. E o que fiz foi desmontar o regulador de voltagem e não vinha de lá. Então desmontei o alternador, e não era isso. Desmontei as escovas do gerador, e não era isso também. Depois que desmontei tudo, finalmente peguei o carburador e, quando cheguei nele, descobri que era aquilo. E eu disse para mim mesmo que ‘besta, da próxima vez que você ouvir este som é melhor desmontar primeiro o carburador’’”.

Como ele aprendeu? Ele aprendeu pela prática.

Eu não me importo quanta teoria você tem: se essa teoria não tem nenhuma prática aplicada a ela, então acaba sendo irrelevante. Certo? Qualquer teoria que você tem, pratique-a. E quando você a praticar, você cometerá alguns erros. Quando você cometer um erro, corrigirá essa teoria e, então, será a teoria corrigida que será capaz de ser aplicada e usada em qualquer situação. É disso que temos que ser capazes.

Toda vez que falo em uma igreja, sempre tento dizer algo, sabe, sobre Martin Luther King. Eu respeito muito Martin Luther King. Penso que ele foi um dos maiores oradores que o país já produziu. E ouço qualquer um que fale bem, porque gosto de ouvir isso. Martin Luther King disse que pode parecer escuro às vezes, e pode parecer escuro aqui na zona norte. Talvez você pensasse que a sala fosse estar lotada de pessoas, e talvez tivesse pensado que tivesse que pedir para algumas pessoas se retirarem e, ao final, pode ser que não haja tantas pessoas. Talvez algumas das pessoas que vocês pensam que deveriam estar aqui não estejam, e você pensa que, bem, se elas não estão aqui, então não será tão bom como pensamos que poderia ser. E talvez vocês pensassem que precisavam de mais pessoas do que as que temos aqui. Talvez pensem que os porcos serão capazes de pressionar vocês, e colocar pressão suficiente para esmagar seu movimento antes mesmo dele começar. Mas Martin Luther King disse que ouviu em algum lugar que apenas quando está escuro o suficiente você pode ver as estrelas. E não estamos preocupados com estar escuro. Ele disse que o braço do universo moral é longo, mas que ele se dobra em direção ao céu.

Temos Huey P. Newton na cadeia e Eldridge Cleaver na clandestinidade. E Alprentice Bunchy Carter foi assassinado; Bobby Hutton e John Huggins foram assassinados. E muitas pessoas pensam que o Partido Pantera Negra, em certo sentido, está desistindo. Mas vamos dizer isso: que nós nos comprometemos com o povo de um modo que dificilmente alguém já tenha se comprometido.

Nós tomamos essa decisão, ainda que alguns de nós venham do que alguns de vocês chamariam de famílias pequeno-burguesas; ainda que alguns de nós pudéssemos estar, em algum sentido, naquilo que vocês chamam de “topo da montanha”. Nós poderíamos estar integrados à sociedade, trabalhando com pessoas com as quais nós podemos nunca ter a chance de trabalhar. Talvez pudéssemos estar no topo da montanha e talvez não tivéssemos que ficar nos escondendo quando vamos falar em locais como esse. Talvez não tivéssemos que nos preocupar com tribunais, ir parar na cadeia ou ficar doentes. Nós dizemos que, mesmo que todos estes luxos existam no topo da montanha, nós compreendemos que vocês e seus problemas estão bem aqui, no vale.

Nós, no Partido Pantera Negra, por nossa dedicação e entendimento, chegamos até o vale sabendo que o povo está no vale; sabendo que o nosso drama é o mesmo drama do povo no vale; sabendo que nossos inimigos estão na montanha, que nossos amigos estão no vale e que, mesmo que seja legal estar no topo da montanha, nós estamos aqui no vale. Porque nós entendemos que existe trabalho a ser feito no vale, e quando concluirmos este trabalho no vale, então iremos para o topo da montanha. E estaremos indo para o topo da montanha porque tem um filho da mãe no topo de montanha que está brincando de ser rei, e ele nos está sacaneando. E nós temos que subir ao topo da montanha não para viver seu estilo de vida e viver como ele vive. Temos que subir ao topo da montanha para fazer esse filho da mãe entender, merda, que estamos vindo do vale!

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