A Autobiografia de Malcolm X com a colaboração de Alex Haley, lançada originalmente em 1965, figura entre os livros mais importantes de não-ficção do século XX, com a cuidadosa redação de Alex Haley, que depois se consagraria com o romance “Roots”. O livro narra a trajetória incendiária de Malcolm Little, nascido em 19 de maio de 1925 e filho de um pastor garveysta membro da UNIA que foi assassinado por supremacistas brancos. “Red”, como era chamado pelos amigos de juventude, se envolveu com a criminalidade e na prisão se converteu ao “islamismo negro” de Elijah Muhammad, tornando-se depois Malcolm X, o eloquente porta-voz da Nação do Islã e a figura mais contundente e importante da luta de libertação negra nos EUA. Ao romper com a NOI, partir em visita à África e realizar uma peregrinação a Meca, adota o nome El-Hajj Malik El-Shabazz e funda a Muslim Mosque Inc. e a OAAU, radicalizando suas posições políticas, até ser assassinado por uma conspiração da CIA e do FBI em 21 de fevereiro de 1965.
Após sair da prisão em liberdade condicional em 1952 e convertido ao “islamismo negro” da Nação do Islã, Malcolm X se torna um leal seguidor da filosofia da NOI e do seu líder, Elijah Muhammad. A doutrina da NOI, uma releitura racial do Islã como uma resposta ao supremacismo branco da América racista, proclamava a necessidade de uma nação negra independente envolvendo uma crença na origem da humanidade a partir de uma nação mítica árabe-africana, a tribo dos Shabazz, da qual descendiam todo os povos na África e na diáspora, com a posterior criação de uma raça de demônios pelo cientista Yakub, a raça branca.
Galgando rapidamente posições na NOI, a partir de 1953 Malcolm passa a orientar novos membros no templo de Detroit e depois é transferido para Boston, onde se tornaria ministro, fundando também templos em Nova York, na Filadélfia e em cidades do sul dos EUA. Talentoso e carismático, trabalha no jornal Muhammad Speaks e ocupa o ministério do templo do Harlem, sendo nomeado por Elijah Muhammad representante nacional da NOI e a segunda pessoa mais importante na hierarquia da organização. Casando-se em 1958 com Betty Shabazz, Malcolm X é crítico da liderança pacifista e integracionista de Luther King no Movimento dos Direitos Civis. Com discursos inflamados para multidões negras, aparições em debates na mídia, entrevistas e conferências em universidades, se torna a principal referência da luta de libertação negra nos EUA e uma das figuras públicas mais controversas e importantes do país.
Incansável organizador que conheceu bem os guetos negros na juventude, a NOI sob a liderança carismática de Malcolm passou de cerca de 500 membros para 30 mil disciplinados seguidores em menos de 10 anos, com a organização religiosa mantendo também dezenas de empresas, imóveis e negócios para a comunidade negra. Em 1962, tem início a crise entre Malcolm e Elijah, com o eloquente porta-voz da NOI discordando das limitações impostas pelo líder espiritual para ação direta e a autodefesa das massas negras contra a brutalidade racista.
Depois do seu famoso discurso “O julgamento de Allah contra a América Branca”, Malcolm é punido por uma declaração polêmica sobre o assassinato de JFK em 1963. O enriquecimento pessoal de Elijah e um escalando sexual envolvendo filhos do líder da NOI com suas secretarias adolescentes servem de estopim para a ruptura publica de Malcom com a organização em março de 1964.
Assim que deixa a NOI oficialmente, Malcolm faz sua segunda visita à África e realiza o Hajj, sua famosa peregrinação à cidade sagrada de Meca, confirmando sua conversão ao islamismo sunita e adotando o nome El-Hajj Malik El-Shabazz. Funda então a Muslim Mosque Inc e logo depois a Organização da Unidade Afro-Americana (OUAA), em julho de 1964 Malcolm volta à África como Omowale (o filho que voltou para casa), sendo recebido com honras de chefe de Estado em países da África Negra e árabes.
O último ano da vida de Malcolm é marcado por sua opção pelo humanismo sunita e, ao mesmo tempo, por uma radicalização no seu projeto político. Ainda em 1962 havia conhecido Max Stanford, quem aconselhou a fundar o Movimento de Ação Revolucionária (RAM), uma organização que mesclou o nacionalismo negro e a orientação marxista-leninista com forte influência maoísta e iniciou a construção das Guardas Negras como seu braço armado. Tema pouco citado, mas que possui relação direta com seu assassinato por uma conspiração da CIA e FBI, Malcolm coordenou desde o início de sua crise com a NOI um projeto político paralelo, com a OUAA devendo ser uma frente ampla com atuação pública e o RAM uma organização clandestina e armada para autodefesa do povo negro. O movimento de Malcolm para avançar no projeto de uma organização nacionalista negra revolucionária envolvia também Robert F. Williams, antigo líder da NAACP, então exiliado em Cuba e depois na China maoísta, e que viria a se tornar presidente honorário da República da Nova Áfrika.
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